1. |
Só
02:40
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Só você que me deixa.
Bane, suprime, segrega, despreza.
Encerrar. Exila, recusa. Apagar.
Prescinde, omite.
Olvidar, apagar, encerrar, esquecer.
Você parte e me arranca,
sai de cena e me tira,
vai embora e me rouba,
se retira e me leva.
Veda, extirpa. Encerrar.
Exila, recusa. Apagar.
Prescinde, omite.
Olvidar, apagar, encerrar, esquecer.
Centro, cerne, sentido, visão.
Causa, coisa, pilar, proteção.
Rumo, prumo, motor, direção.
Sorte, mote, meta, quinhão.
Base, alicerce, questão.
Lema, suporte, motivo, versão.
Só você, só você, você só.
Só você que me deixa, que me deixa.
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2. |
À Deriva
03:42
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Se não tivesse sido assim,
coubesse um outro enredo.
Houvera nada, nunca, ninguém,
tramasse um outro desfecho.
Jamais tivesse vindo a ser o que afinal conheço.
Se decidisse ir por ali, se não?
Fosse outra a canção?
Encenasse outra trama, pegasse outra direção...
Se tivesse feito um’outra coisa à toa,
um pouquinho ao sul e o vento em proa,
um’outra coisa à toa.
À deriva e ao léu, cantando outra loa,
coisinha à toa.
Vai ficar, será que vai embora?
Vai gostar, não vai?
Vai fugir, será que se demora?
Vai voltar, não vai?
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3. |
Canção de Empédocles
04:52
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Dentro do meu corpo mora o rosto de ninguém,
mora o cosmo todo, estrela errante, vento de jasmim,
sal de orvalho, fogo, folha, pássaro, serpente.
Dedos tocando o horizonte, se ramificando
por cima do monte, no galho, na fonte,
meu corpo-universo, o mesmo e diverso,
no olho um vulcão.
Terra com terra cindindo num sismo
se abrindo, a boca do abismo engolindo o meu corpo,
seu corpo fundindo com outros, respira e de muitos faz um.
Pois bem, contempla o mundo na palma da mão.
Movem-se lentas as pedras do chão,
sem olhar pra mim.
Ouve bem, o tempo em firme compasso a rugir,
movendo a seiva e o sangue a fluir,
sem olhar pra mim.
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4. |
Cisma
02:46
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Eu não posso dar consolo nem lição,
eu não faço coro pra ouvir sermão.
Eu não tenho rumo,
não tenho certeza, nem opinião.
Mas eu sei ensinar a ciência e a prática certa
de te ver, te fitar, te querer, te levar.
Eu não tenho a lógica nem a razão
não conheço a rima nem a solução
não sei a conduta, nem a posição.
Mas faço figa pra te ver, menino,
da minha cisma nunca desanimo.
Não tenho destino
eu só tenho a dúvida e a questão.
Posso até revelar toda a arte e a química certa
e convém desfrutar a delícia dessa descoberta.
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5. |
Réquiem
01:52
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Mãos de lã,
tez de mel,
lábios de rosa e carmim.
Do olhar,
sob um véu,
lanças promessas pra mim.
Mas se abres teu jarro de barro, o que jorra?
Que mil dissabores espalhas?
Cumulas de agrados meus dez mil pesares,
dores, errâncias e falhas.
Mãos de lã,
tez de mel,
cantos de lira e clarim.
Quando me fitas, que rota me indicas?
Chora, Pandora, por mim.
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6. |
Fim
02:35
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Há de haver um vazio imenso depois do silêncio.
Há de haver, haverá,
toda morte chega, não pede licença.
Nada a perder, ausência só, que jaz.
Tempo sem traço de ninguém, espaço a vagar,
tempo sem tempo e nada além há de chegar.
Não demora, tudo há de escurecer,
hora de suspender.
Toda fartura do delírio há de acabar
como esquecida, coisa vã, nalgum lugar.
Não demora, tudo há de escurecer.
Não demora, tudo há de escurecer,
hora de suspender.
E nenhuma explosão, explosão alguma vai apagar tua paz.
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7. |
Monumento
03:05
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Quando te vi hesitar,
tentei te pedir pra ficar usando palavras diversas.
Quis o meu gesto abafar e com outras mãos te tocar,
chamar-te com novas conversas.
Volto ao começo mais uma vez
e me conformo à mesma melancolia.
Uma outra língua falar,
levar-te pra um outro lugar, mas fracassei no intento,
pois me relegas ao esquecimento.
Mas fracassei no intento,
pois me relegas ao esquecimento
e só me resta edificar um monumento ao meu pesar.
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8. |
Máquina Planetária
03:25
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Aqui, de onde ouves o agito insano, clamor feroz,
mas nem sequer pressentes a mão tirana do teu algoz.
Onde, da ilha urbana, uma saída avistarás?
Máquina do mundo todo, parafernália,
máscara que te conforma a cara;
crônica máquina que aprisiona e tripudia,
mata devagar, asfixia.
Máquina devastadora
que te sufoca, paralisa, anestesia.
Garra que te estrangula, chaga que já não cura, praga.
Bala que te fura, açoite atroz.
Onde, da ilha urbana, uma saída avistarás?
Agora só ficou pra trás, a lama já chegou à foz,
emudeceu a tua voz.
Agora vais saber de cor, aqui o tempo é inimigo,
és infinito devedor.
Aqui, de onde ouves o agito insano, clamor feroz,
mas nem sequer pressentes a mão tirana do teu algoz.
Onde, da ilha urbana, uma saída avistarás?
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9. |
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Quem sabe o mundo não é tanta coisa quanto dizem por aí,
quem sabe o mundo apaga luzes, fecha portas e costura ardis?
Quiçá não sejam poucas aflições.
Que derrocadas, dores, aguilhões,
que só o riso abate um pouco e poucas vezes nas canções.
Esquece o vasto mundo, chega aqui,
com outros mundos vem me iludir.
Esquece o vasto mundo, chega aqui.
Será que o mundo ainda é muito mais do que parece ser daqui?
Esfinges, hemisférios, universos, como enigmas a luzir.
Como convites a investigações,
como promessas de outras invenções,
como a beleza que surge e fenece sem vãs intenções.
Esquece o vasto mundo, chega aqui,
com outros mundos vem me iludir.
Esquece o vasto mundo, chega aqui.
Esquece o vasto mundo, chega aqui,
com outros mundos vem me distrair.
Reclina sobre o meu peito, cerra os olhos, vem pra cá dormir.
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10. |
Bilhete
01:43
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Sabe, irmã,
a vida dura, arde, cansa,
mas avança, irmã,
e não espera a recompensa,
dança, que amanhã
quem sabe o dia nos reserve a graça
e faça rir.
Chama a desordem de beleza,
reza, canta, dança, irmã.
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11. |
A Arte da Pesca
03:42
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[But, he thought, I keep them with precision. Only I have no luck any more. But who knows?
Maybe today. Every day is a new day. It is better to be lucky.
But I would rather be exact. Then when luck comes you are ready.]
(The Old Man and The Sea, Hemingway).
Oxalá a sorte venha,
oxalá a sorte venha pra mim, pra mim, pra mim, pra mim,
pois generoso é o mar,
meu barco vai devagar.
Jogo a minha isca na hora certa,
eu sou partidário da exatidão.
Estou sempre pronto se a sorte chega,
puxo a minha linha com precisão.
Pois generoso é o mar,
sim, abundante é o mar.
Oxalá a sorte venha,
oxalá a sorte venha pra mim, pra mim, pra mim, pra mim,
pois furioso é o mar,
meu barco vai devagar.
Mas o acaso me convence
de que nem sempre se vence
o tempo, o peixe, o mar.
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